AINDA O 25 de Nov de 1975
AINDA O 25 de Nov de 1975
Ainda o 25 de Novembro por Amjrluz Luz Parte do texto da sua página/cronologia:
«..... O vergonhoso e golpista General (graduado) Morais da Silva, o CEMFA de então, assumira dar corpo à tarefa suja, que os golpistas haviam arquitectado, de montar uma provocação máxima para ver quem cairia nela.
TODA A SUA ESTRATÉGIA FOI MONTADA EM CIMA DE ALGO QUE É, ETICAMENTE, DEONTOLOGICAMENTE, MILITARMENTE, UMA VERDADEIRA VERGONHA, MAS QUE OS VENCEDORES, OS HERÓICOS FUNDADORES "DESTA" DEMOCRACIA, ASSUMIRÃO PARA A HISTÓRIA, COMO UMA ESTRATÉGIA BRILHANTE.
ISSO MOSTRA A QUALIDADE MORAL DESTA GENTE. E TUDO ISTO FOI FEITO EM ESTREITA LIGAÇÃO E OBEDIÊNCIA A LIDERANÇAS POLÍTICAS-PARTIDÁRIAS, NACIONAIS E INTERNACIONAIS. E VEM DEPOIS ESTA GENTE FALAR EM ÉTICA E EM INDEPENDÊNCIA PARTIDÁRIA ...
Para começar e de acordo com a estratégia concebida e planeada pelo colectivo conspirador (os 9 e, acima deles, quem dirigia politicamente alguns deles), aquele general golpista, decidira ordenar a "EXPULSÃO imediata (uma manobra provocatória extrema) do Corpo de Tropas da Força Aérea". Para tal, mandara passar a toda a gente uma Guia de Marcha "para o Exército", sem se saber bem para onde nem como, pois não só a estrutura do Exército não fora tida ou achado nisto, como, o mais importante, não estava minimamente preparada para algo desta dimensão. Era algo nunca visto. A Força Aérea cortou, de repente, todo o apoio financeiro, pessoal e logístico a um Corpo de Tropas paraquedistas, incluindo até a comida. In extremis, foram algumas unidades do Exército, como aquela que eu comandava, o Forte de Almada, que decidiram de emergência partilhar a sua comida com os camaradas assim abandonados. Todas aquelas centenas de sargentos e praças ficaram sem saber qual o seu futuro.
Em segundo lugar, quase todos os oficiais que comandavam e enquadravam as Tropas Paraquedistas (123 !!) desertaram. De forma planeada abandonaram todos ao mesmo tempo, cobardemente, provocatoriamente, os seus homens à sua sorte e foram juntar-se aos golpistas na Base Aérea da Corte Graça. Era o total decepar de um Corpo de Tropas de combate, altamente operacional e disciplinado que assim ficava, naturalmente, descomandado, desnorteado.
Estas duas manobras constituiram assim uma provocação máxima que tinha 100% de probabilidades de gerar uma reacção violenta, intempestiva por parte de tropas de combate assim tão vergonhosa e injustamente insultadas, assim tao vergonhosa e injustamente desprezadas, desprestigiadas, humilhadas. Os militares treinados para o combate, para matar ou morrer, mais do que a qualquer outra provocação, tendem a reagir violentamente à injustiça de uma humilhação desta grandeza, sobretudo quando são os seus comandantes, aqueles a quem se habituaram a obedecer e a ver como exemplos que os abandonam, que desertam vergonhosamente e se tornam cúmplices assumidos, na injustiça, na humilhação.
Finalmente e de caminho, a maioria dos pilotos desertaram das suas Bases Aéreas e foram juntar-se aos golpistas na Corte Garça, levando para lá a maioria dos aviões de combate, sobretudo os Fiat G91 e os T6 Harvard.
Sentado num maple da Sala de Operações, assistia a todo aquele caos. Os sargentos paraquedistas eram uma presença insólita. Desesperados e revoltados não aceitavam o que lhes tinham feito. Recusavam-se DESOCUPAR as Bases Aéreas que tinham sido até aí a sua casa. Alguns mais excitados gritavam que tinham que OCUPAR as Bases Aéreas. Aqui o Ocupar era apenas uma questão semântica, porque eles já lá estavam. Os comandantes dos páras tinham desertado das bases e o mesmo tinha acontecido com a estrutura operacional e de comando de combate aéreo da Força Aérea. As Bases Aéreas, onde estavam aquarteladas as tropas paraquedistas tenham ficado praticamente desertas. Uma total, inaceitável e imperdoável insubordinação e um crime de rebelião (do qual eu outros fomos, posteriormente, pateticamente acusados) pois foi tudo feito à revelia (e contra) o COPCON (Comando Operacional do Continente) que, legalmente era o seu Comando Operacional.
Com raras excepções, os sargentos paraquedistas eram agora os chefes máximos daquele Corpo de Tropas. Obviamente sem experiência ou preparação para uma tarefa desta dimensão.
Recordo bem que foi este grito ("ocupar as Bases Aéreas") que nos alarmou a todos porque todos sabíamos perfeitamente que QUEM TOMASSE A INICIATIVA DE INICIAR QUALQUER MOVIMENTAÇÃO MILITAR, ASSUMIA O ÓNUS DE SE TER REBELADO CONTRA A HIERARQUIA LEGAL, CONTRA A ORDEM LEGAL ENTÃO EXISTENTE.
QUEM TOMASSE ESSA INICIATIVA ERA "O GOLPISTA".
Todos tínhamos percebido obviamente a boçal manobra provocatória e recordo o Mário Tomé a gritar com os sargentos paraquedistas que isso era cair na armadilha que os golpistas nos estavam a montar.
TODOS TÍNHAMOS CONSCIÊNCIA, DESDE HÁ BASTANTE TEMPO, QUE UM GOLPE PARA DESTRUIR O 25 DE ABRIL ERA INEVITÁVEL.
E TODOS SABÍAMOS QUE ELE TERIA QUE VIR "DE DENTRO".
A seguir ao 11 de Março, fomos assistindo à cisão do núcleo duro dos militares do 25 de Abril, com um sector significativo a entoar o estafado (tínhamos ouvido exactamente isso durante 48 anos): "VÊM AÍ OS RUSSOS" E VÊM PELA MÃO DO PCP.
OS COMUNISTAS, "ORTODOXOS" OU "ESQUERDISTAS", HAVIAM COMEÇADO PROGRESSIVAMENTE A SER CONSIDERADOS COMO O PAPÃO.
A SANTA MADRE IGREJA, O MAIS ACTIVO SUPORTE DOUTRINÁRIO DA DITADURA SALAZARISTA FASCISTA DURANTE MEIO SÉCULO, QUE HAVIA SIDO ESTRUTURADA IDEOLOGICAMENTE PELO GOEBBELS DE SOTAINA, O CARDEAL CEREJEIRA, ERA AGORA A SUA AGUERRIDA HERDEIRA ... E PARTIU EM CRUZADA, COM O CÓNEGO MELO À FRENTE.
Durante meses, em todas as cidades, vilas, aldeias e lugarejos mais recônditos,.as missas eram os comícios semanais dessa cruzada, que muitas vezes, passou a integrar autênticos autos de Fé contra os comunas.
Claro que a classe capitalista reinante, mais a direita inteligente, mais todos os serviços secretos que por aqui andavam e actuavam sabiam que o PCP não constituía perigo algum, porque o Brejnev e o Kissinger já se tinham entendido e esse respeito em Vladivostok no fim de Dezembro de 1974.
Portugal era da NATO e quer os americanos quer os soviéticos não estavam interessados em alterar os equilíbrios que tantas vantagens trazia a ambos. O PCP, visto como um mero prolongamento do PCUS era um embaraço e "ficara proibido" pelo Brejnev de ir além de um certo score eleitoral. A moeda de troca, como sabemos, foi Angola e Moçambique.
A verdadeira história da relação de dependência e/ou independência do PCP relativamente ao PCUS e das tensões que isso foi provocando no seio do próprio PCP é surpreendentemente complexa, contraditória e ainda hoje está por divulgar. Mesmo no seio daqueles que na altura integravam a estrutura mais próxima de Cunhal ainda hoje existem interrogações, interpretações e explicações absolutamente contraditórias.
Muitos de nós sabíamos disto desde a primavera-verão de 75 e passávamos o tempo a dizê-lo, mas ninguém nos ligava. Hoje, já tudo isso se sabe, mas isso agora é uma história fora da HISTORIOGRAFIA OFICIAL que a ninguém interessa.
Entretanto, no meio de tudo isso, naquela altura, era o exaltante dia a dia que ocupava a cena e ultrapassava tudo. Era uma febre, uma verdadeira loucura. Uma loucura exaltante e inesquecível para alguns de nós (sem dúvida o melhor período da minha vida, aquele que não trocava por nada), mas terrivelmente assustadora para outros.» Rosado da Luz ,coronel ref.
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Ainda o 25 de Novembro por Amjrluz Luz Parte do texto da sua página/cronologia:
«..... O vergonhoso e golpista General (graduado) Morais da Silva, o CEMFA de então, assumira dar corpo à tarefa suja, que os golpistas haviam arquitectado, de montar uma provocação máxima para ver quem cairia nela.
TODA A SUA ESTRATÉGIA FOI MONTADA EM CIMA DE ALGO QUE É, ETICAMENTE, DEONTOLOGICAMENTE, MILITARMENTE, UMA VERDADEIRA VERGONHA, MAS QUE OS VENCEDORES, OS HERÓICOS FUNDADORES "DESTA" DEMOCRACIA, ASSUMIRÃO PARA A HISTÓRIA, COMO UMA ESTRATÉGIA BRILHANTE.
ISSO MOSTRA A QUALIDADE MORAL DESTA GENTE. E TUDO ISTO FOI FEITO EM ESTREITA LIGAÇÃO E OBEDIÊNCIA A LIDERANÇAS POLÍTICAS-PARTIDÁRIAS, NACIONAIS E INTERNACIONAIS. E VEM DEPOIS ESTA GENTE FALAR EM ÉTICA E EM INDEPENDÊNCIA PARTIDÁRIA ...
Para começar e de acordo com a estratégia concebida e planeada pelo colectivo conspirador (os 9 e, acima deles, quem dirigia politicamente alguns deles), aquele general golpista, decidira ordenar a "EXPULSÃO imediata (uma manobra provocatória extrema) do Corpo de Tropas da Força Aérea". Para tal, mandara passar a toda a gente uma Guia de Marcha "para o Exército", sem se saber bem para onde nem como, pois não só a estrutura do Exército não fora tida ou achado nisto, como, o mais importante, não estava minimamente preparada para algo desta dimensão. Era algo nunca visto. A Força Aérea cortou, de repente, todo o apoio financeiro, pessoal e logístico a um Corpo de Tropas paraquedistas, incluindo até a comida. In extremis, foram algumas unidades do Exército, como aquela que eu comandava, o Forte de Almada, que decidiram de emergência partilhar a sua comida com os camaradas assim abandonados. Todas aquelas centenas de sargentos e praças ficaram sem saber qual o seu futuro.
Em segundo lugar, quase todos os oficiais que comandavam e enquadravam as Tropas Paraquedistas (123 !!) desertaram. De forma planeada abandonaram todos ao mesmo tempo, cobardemente, provocatoriamente, os seus homens à sua sorte e foram juntar-se aos golpistas na Base Aérea da Corte Graça. Era o total decepar de um Corpo de Tropas de combate, altamente operacional e disciplinado que assim ficava, naturalmente, descomandado, desnorteado.
Estas duas manobras constituiram assim uma provocação máxima que tinha 100% de probabilidades de gerar uma reacção violenta, intempestiva por parte de tropas de combate assim tão vergonhosa e injustamente insultadas, assim tao vergonhosa e injustamente desprezadas, desprestigiadas, humilhadas. Os militares treinados para o combate, para matar ou morrer, mais do que a qualquer outra provocação, tendem a reagir violentamente à injustiça de uma humilhação desta grandeza, sobretudo quando são os seus comandantes, aqueles a quem se habituaram a obedecer e a ver como exemplos que os abandonam, que desertam vergonhosamente e se tornam cúmplices assumidos, na injustiça, na humilhação.
Finalmente e de caminho, a maioria dos pilotos desertaram das suas Bases Aéreas e foram juntar-se aos golpistas na Corte Garça, levando para lá a maioria dos aviões de combate, sobretudo os Fiat G91 e os T6 Harvard.
Sentado num maple da Sala de Operações, assistia a todo aquele caos. Os sargentos paraquedistas eram uma presença insólita. Desesperados e revoltados não aceitavam o que lhes tinham feito. Recusavam-se DESOCUPAR as Bases Aéreas que tinham sido até aí a sua casa. Alguns mais excitados gritavam que tinham que OCUPAR as Bases Aéreas. Aqui o Ocupar era apenas uma questão semântica, porque eles já lá estavam. Os comandantes dos páras tinham desertado das bases e o mesmo tinha acontecido com a estrutura operacional e de comando de combate aéreo da Força Aérea. As Bases Aéreas, onde estavam aquarteladas as tropas paraquedistas tenham ficado praticamente desertas. Uma total, inaceitável e imperdoável insubordinação e um crime de rebelião (do qual eu outros fomos, posteriormente, pateticamente acusados) pois foi tudo feito à revelia (e contra) o COPCON (Comando Operacional do Continente) que, legalmente era o seu Comando Operacional.
Com raras excepções, os sargentos paraquedistas eram agora os chefes máximos daquele Corpo de Tropas. Obviamente sem experiência ou preparação para uma tarefa desta dimensão.
Recordo bem que foi este grito ("ocupar as Bases Aéreas") que nos alarmou a todos porque todos sabíamos perfeitamente que QUEM TOMASSE A INICIATIVA DE INICIAR QUALQUER MOVIMENTAÇÃO MILITAR, ASSUMIA O ÓNUS DE SE TER REBELADO CONTRA A HIERARQUIA LEGAL, CONTRA A ORDEM LEGAL ENTÃO EXISTENTE.
QUEM TOMASSE ESSA INICIATIVA ERA "O GOLPISTA".
Todos tínhamos percebido obviamente a boçal manobra provocatória e recordo o Mário Tomé a gritar com os sargentos paraquedistas que isso era cair na armadilha que os golpistas nos estavam a montar.
TODOS TÍNHAMOS CONSCIÊNCIA, DESDE HÁ BASTANTE TEMPO, QUE UM GOLPE PARA DESTRUIR O 25 DE ABRIL ERA INEVITÁVEL.
E TODOS SABÍAMOS QUE ELE TERIA QUE VIR "DE DENTRO".
A seguir ao 11 de Março, fomos assistindo à cisão do núcleo duro dos militares do 25 de Abril, com um sector significativo a entoar o estafado (tínhamos ouvido exactamente isso durante 48 anos): "VÊM AÍ OS RUSSOS" E VÊM PELA MÃO DO PCP.
OS COMUNISTAS, "ORTODOXOS" OU "ESQUERDISTAS", HAVIAM COMEÇADO PROGRESSIVAMENTE A SER CONSIDERADOS COMO O PAPÃO.
A SANTA MADRE IGREJA, O MAIS ACTIVO SUPORTE DOUTRINÁRIO DA DITADURA SALAZARISTA FASCISTA DURANTE MEIO SÉCULO, QUE HAVIA SIDO ESTRUTURADA IDEOLOGICAMENTE PELO GOEBBELS DE SOTAINA, O CARDEAL CEREJEIRA, ERA AGORA A SUA AGUERRIDA HERDEIRA ... E PARTIU EM CRUZADA, COM O CÓNEGO MELO À FRENTE.
Durante meses, em todas as cidades, vilas, aldeias e lugarejos mais recônditos,.as missas eram os comícios semanais dessa cruzada, que muitas vezes, passou a integrar autênticos autos de Fé contra os comunas.
Claro que a classe capitalista reinante, mais a direita inteligente, mais todos os serviços secretos que por aqui andavam e actuavam sabiam que o PCP não constituía perigo algum, porque o Brejnev e o Kissinger já se tinham entendido e esse respeito em Vladivostok no fim de Dezembro de 1974.
Portugal era da NATO e quer os americanos quer os soviéticos não estavam interessados em alterar os equilíbrios que tantas vantagens trazia a ambos. O PCP, visto como um mero prolongamento do PCUS era um embaraço e "ficara proibido" pelo Brejnev de ir além de um certo score eleitoral. A moeda de troca, como sabemos, foi Angola e Moçambique.
A verdadeira história da relação de dependência e/ou independência do PCP relativamente ao PCUS e das tensões que isso foi provocando no seio do próprio PCP é surpreendentemente complexa, contraditória e ainda hoje está por divulgar. Mesmo no seio daqueles que na altura integravam a estrutura mais próxima de Cunhal ainda hoje existem interrogações, interpretações e explicações absolutamente contraditórias.
Muitos de nós sabíamos disto desde a primavera-verão de 75 e passávamos o tempo a dizê-lo, mas ninguém nos ligava. Hoje, já tudo isso se sabe, mas isso agora é uma história fora da HISTORIOGRAFIA OFICIAL que a ninguém interessa.
Entretanto, no meio de tudo isso, naquela altura, era o exaltante dia a dia que ocupava a cena e ultrapassava tudo. Era uma febre, uma verdadeira loucura. Uma loucura exaltante e inesquecível para alguns de nós (sem dúvida o melhor período da minha vida, aquele que não trocava por nada), mas terrivelmente assustadora para outros.» Rosado da Luz ,coronel ref.
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